terça-feira, 15 de julho de 2014

Barbies humanas inspiram meninas no Brasil e no mundo; especialistas alertam para riscos

Polêmica envolve o incentivo a transtornos alimentares; garotas valorizam visual magérrimo e modificado por maquiagem para se assemelharem a bonecas

 

 Mundialmente famosa, a modelo Valeriya Lukyanova, radicada na Ucrânia e mais conhecida como ‘Barbie Humana’, concedeu uma entrevista à edição deste mês da revista norte-americana GQ. Ela atribui a ‘queda’ no padrão de beleza à mistura de raças, revela sua admiração pela estética ‘nórdica’ e diz que preferiria ‘morrer torturada’ do que ter filhos ou manter um estilo de vida ‘família’. Ela reforça que é contra o feminismo e conta que frequentemente faz uma dieta baseada apenas em líquidos; entre outras declarações pouco ortodoxas. O repórter chega a dizer, em seu texto, que foi à Ucrânia esperando encontrar uma garota de cidade pequena que cresce obcecada por bonecas e encontrou, na verdade, uma ‘alienígena racista’.

 

Segundo o especialista, portanto, o baixo peso e o desenvolvimento corporal são características individuais que não determinam, sozinhos, um diagnóstico de anorexia ou bulimia. “Uma pessoa pode ter um corpo muito diferente das formas dessas meninas-bonecas e ainda assim desenvolver um transtorno alimentar. E uma mulher com o corpo muito magro não necessariamente tem o problema”, esclarece.

Sander lembra, no entanto, que há riscos no ‘efeito espelho’. “Se uma pessoa que tem o corpo muito diferente do ‘mignon’ almejar essa aparência, muitas vezes a maneira que ela encontra para alcançá-la é parando de comer. Isso é um perigo. Com alimentação normal e saudável, uma pessoa com biotipo mais próximo da média brasileira, por exemplo, não consegue esse ‘resultado’, ainda que ela seja magra e tenha IMC perto de 20, por exemplo”, enumera o médico. 

Bruno Sander considera que os adolescentes, e particularmente as meninas, são o público mais afetado pelos padrões estéticos propagados em cada época. “Cada tribo estabelece mitos e padrões de beleza e de comportamento. As meninas geralmente querem ser magras e os meninos, mesmo sem estrutura corporal para isso, querem ser musculosos”, aponta.

Mas quando o desejo de ter um corpo bonito vira preocupação exagerada? “Quando afeta a saúde física e mental. Uma pessoa que se sente mal com o corpo e quer mudar não é doente. Mas uma pessoa que se arrisca, passa longos períodos em jejum, fica seis horas na academia e priva-se de alimentos importantes pode estar desenvolvendo uma patologia”, alerta.
O gastroenterologista ressalta que todo ser humano busca estar bem consigo mesmo. “Mas, se para alcançar essa condição, ele resolve emagrecer, deve fazer isso com orientação profissional. Sem cortar alimentos por conta própria, principalmente na adolescência, que é um período de grandes mudanças no corpo. Tudo que é em excesso, atrapalha”, define o especialista.

A psicóloga Sônia Eustáquia Fonseca, lembra, por sua vez, que apenas o fato de uma pessoa declarar que não faz dieta não garante que ela não tenha um distúrbio. “A anorexia nervosa tem como característica a negação do problema. Além da visão distorcida da imagem, a pessoa nunca admite que faz qualquer tipo de dieta. É um comportamento muito diferente de outros indivíduos que, apesar de desejarem perder uns quilinhos, conversam normalmente sobre a alimentação e assumem que estão fazendo regime”, afirma a especialista.

Fonseca acrescenta que a visão distorcida sobre o próprio corpo – ou seja, ver coisas que não existem – geralmente é acompanhada da paranoia em relação a ‘engordar’, da obsessão e da compulsão. O problema nunca vem sozinho. “O processo é tão severo que pode-se chegar ao risco de morte. E, neste ponto, pode haver necessidade de internação e cuidados psiquiátricos para contornar a crise. E só então iniciar o trabalho com a equipe multidisciplinar”, completa.

 

Fonte: http://sites.uai.com.br

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