Barbies humanas inspiram meninas no Brasil e no mundo; especialistas alertam para riscos
Polêmica envolve o incentivo a transtornos
alimentares; garotas valorizam visual magérrimo e modificado por
maquiagem para se assemelharem a bonecas
Mundialmente famosa, a modelo Valeriya Lukyanova, radicada na Ucrânia e
mais conhecida como ‘Barbie Humana’, concedeu uma entrevista à edição
deste mês da revista norte-americana GQ. Ela atribui a ‘queda’ no padrão
de beleza à mistura de raças, revela sua admiração pela estética
‘nórdica’ e diz que preferiria ‘morrer torturada’ do que ter filhos ou
manter um estilo de vida ‘família’. Ela reforça que é contra o feminismo
e conta que frequentemente faz uma dieta baseada apenas em líquidos;
entre outras declarações pouco ortodoxas. O repórter chega a dizer, em
seu texto, que foi à Ucrânia esperando encontrar uma garota de cidade
pequena que cresce obcecada por bonecas e encontrou, na verdade, uma
‘alienígena racista’.
Segundo o especialista, portanto, o baixo peso e o desenvolvimento
corporal são características individuais que não determinam, sozinhos,
um diagnóstico de anorexia ou bulimia. “Uma pessoa pode ter um corpo
muito diferente das formas dessas meninas-bonecas e ainda assim
desenvolver um transtorno alimentar. E uma mulher com o corpo muito
magro não necessariamente tem o problema”, esclarece.
Sander
lembra, no entanto, que há riscos no ‘efeito espelho’. “Se uma pessoa
que tem o corpo muito diferente do ‘mignon’ almejar essa aparência,
muitas vezes a maneira que ela encontra para alcançá-la é parando de
comer. Isso é um perigo. Com alimentação normal e saudável, uma pessoa
com biotipo mais próximo da média brasileira, por exemplo, não consegue
esse ‘resultado’, ainda que ela seja magra e tenha IMC perto de 20, por
exemplo”, enumera o médico.
Bruno Sander considera que os adolescentes, e particularmente as
meninas, são o público mais afetado pelos padrões estéticos propagados
em cada época. “Cada tribo estabelece mitos e padrões de beleza e de
comportamento. As meninas geralmente querem ser magras e os meninos,
mesmo sem estrutura corporal para isso, querem ser musculosos”, aponta.
Mas
quando o desejo de ter um corpo bonito vira preocupação exagerada?
“Quando afeta a saúde física e mental. Uma pessoa que se sente mal com o
corpo e quer mudar não é doente. Mas uma pessoa que se arrisca, passa
longos períodos em jejum, fica seis horas na academia e priva-se de
alimentos importantes pode estar desenvolvendo uma patologia”, alerta.
O
gastroenterologista ressalta que todo ser humano busca estar bem
consigo mesmo. “Mas, se para alcançar essa condição, ele resolve
emagrecer, deve fazer isso com orientação profissional. Sem cortar
alimentos por conta própria, principalmente na adolescência, que é um
período de grandes mudanças no corpo. Tudo que é em excesso, atrapalha”,
define o especialista.
A psicóloga Sônia Eustáquia Fonseca, lembra, por sua vez, que apenas o
fato de uma pessoa declarar que não faz dieta não garante que ela não
tenha um distúrbio. “A anorexia nervosa tem como característica a
negação do problema. Além da visão distorcida da imagem, a pessoa nunca
admite que faz qualquer tipo de dieta. É um comportamento muito
diferente de outros indivíduos que, apesar de desejarem perder uns
quilinhos, conversam normalmente sobre a alimentação e assumem que estão
fazendo regime”, afirma a especialista.
Fonseca acrescenta que a
visão distorcida sobre o próprio corpo – ou seja, ver coisas que não
existem – geralmente é acompanhada da paranoia em relação a ‘engordar’,
da obsessão e da compulsão. O problema nunca vem sozinho. “O processo é
tão severo que pode-se chegar ao risco de morte. E, neste ponto, pode
haver necessidade de internação e cuidados psiquiátricos para contornar a
crise. E só então iniciar o trabalho com a equipe multidisciplinar”,
completa.
Fonte: http://sites.uai.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário